Por |
A falta de
informações sobre assuntos acerca de sexualidade e saúde feminina tem feito com
que mulheres busquem respostas para as dúvidas em ambientes como o
"Afrodites", grupo virtual com mais de 16 mil integrantes
Apesar de profissionais da saúde constantemente incentivarem mulheres a
procurarem ajuda a respeito de problemas íntimos, algumas se sentem
envergonhadas ou inibidas demais para fazê-lo, às vezes até pela conduta do
próprio médico. De acordo com a educadora sexual e fisioterapeuta Débora Padua,
muitas das mulheres que sofrem de vaginismo – condição que impede o relaxamento
dos músculos pélvicos – ouvem de médicos que a condição é “frescura”. Essa
dificuldade em obter informações sobre sexualidade e até sobre questões
relacionadas a abuso e assédio motivou a criação de diversos grupos de sexo,
bem-estar e universo feminino nas redes sociais.
Nos
últimos anos, esses grupos de sexo , relacionamentos e questões do
universo feminino exclusivos para mulheres – tanto abertos como secretos –
começaram a pipocar no Facebook. Alguns deles chegam a reunir mais de 10 mil
mulheres. É o caso do grupo “Afrodites” que desde a criação, há um ano, já
reuniu 16,5 mil integrantes.
Criado pela
empresária Luciana Vilela, a ideia surgiu quando ela teve contato com outros
grupos de sexo desse tipo. “Me tornei moderadora [do grupo] e, quando
minha popularidade aumentou muito, a dona do grupo me excluiu. Mesmo com receio
de não dar certo, criei coragem, abri meu próprio grupo e ele cresceu
rapidamente”, afirma. Uma das coisas que diferencia o “Afrodites” dos outros é
o fato de que, segundo Luciana, a maior parte das integrantes da comunidade
(74%) é composta por mulheres entre 30 e 49 anos de idade, enquanto os outros
têm um público mais jovem.
Segundo a secretária
Claudia Santos, que integra a comunidade, um dos fatores que torna esses
ambientes tão atrativos para mulheres é o fato de muitas compartilharem das
mesmas dúvidas. “Saber que existem diversas mulheres que têm os mesmos pudores,
vergonhas, limitações que eu tinha é me sentir extremamente acolhida”, conta.
Ela diz também que o
acolhimento que o ambiente proporciona facilita as discussões. “O grupo é feito
para o universo feminino , que lida com questões muitas vezes
aflitivas, doloridas e carregadas de tabus. Essas questões são discutidas com
muita seriedade, mas de forma leve, permeada por bom humor e acolhimento, o que
faz com que os temas fiquem fáceis de serem debatidos”, comenta.
Esses
ambientes são seguros?
A ideia parece ótima,
mas buscar informações com outras 16 mil mulheres em grupos de sexo,
relacionamentos e bem-estar é uma boa ideia? Além da diferença de público,
há também o fato de o grupo reunir um grande grupo de especialistas
sobre assuntos variados para que as dúvidas das mulheres sejam devidamente
esclarecidas. De acordo com Luciana, ela mesma passou a procurar profissionais
de diferentes áreas, como psicólogas, terapeutas sexuais, dermatologistas e
advogadas e convidá-las para fazer parte da comunidade.
Uma destas
especialistas é a advogada Claudia Cruz. Segundo ela, a iniciativa é algo
realmente positivo, mas a segurança das envolvidas depende de organização.
“Acredito que quando esse trabalho é desenvolvido de maneira fechada, as
participantes sentem-se mais à vontade para expor suas ideias e dúvidas.
Contudo, o bom senso e o foco da organizadora do grupo é o que traz o
crescimento constante”, afirma.
A consultora em saúde
e educação sexual Leila Campos, que também aconselha mulheres na comunidade,
tem uma opinião parecida a respeito da segurança do ambiente. “Como todo grupo,
esse também tem suas regras, e se acontecer algo fora dos princípios, a
participante é excluída. É um ambiente seguro e útil”, elogia ela. De acordo
com Luciana, o grupo de sexo nunca teve problemas com informações íntimas
“escapando” do grupo.
A noção de que o
espaço é seguro para que mulheres compartilhem problemas, dúvidas e façam seus
desabafos não vem apenas da dona do grupo e das especialistas que atuam nele.
De acordo com a empresária e integrante do “Afrodites” Caroline Nalini, o
ambiente não só é seguro como também é “o melhor local para se expor”.
Colunas,
dúvidas, desabafos e mais
Mas, afinal, que tipo
de assunto as 16,5 mil mulheres do “Afrodites” tanto discutem? De acordo com
Luciana, há espaço para se falar de tudo, mas há alguns assuntos que são mais
discutidos. “Os assuntos que mais são abordados são autoestima, libido,
orgasmo, relacionamentos amorosos, traições e fantasias que [as mulheres]
gostariam de realizar".
Leila afirma que
falar sobre assuntos ligados à sexualidade abertamente, como acontece na
comunidade, pode ser extremamente benéfico para as mulheres, já que, desde a
infância, elas têm a sexualidade bastante inibida. “Vivemos em uma sociedade
muito castradora para as mulheres. O não conhecimento vem de uma criação onde o
sexo é assunto proibido ou falado muito superficialmente”, afirma.
Falar sobre
sexualidade é importante, mas há ainda assuntos mais sérios sendo abordados
nesses ambientes. De acordo com Claudia, há algumas questões sobre as quais as
mulheres preferem falar longe dos chefes, maridos, pais e amigos e, acima de
tudo, requerem as opiniões de especialistas. “Atualmente, as questões que mais
tenho enfrentado são as de mulheres que sofrem algum tipo de assédio em
suas vidas. Cabe ao direito do trabalho tratar de assédio nas relações de
trabalho ou de emprego”, afirma a advogada.
Para Caroline, as
discussões, dicas e até “puxões de orelha” a ajudam, e muito. “Nunca tive a
autoestima bem trabalhada, apesar de ser comunicativa, extrovertida e
descolada, tinha vergonha e inseguranças no âmbito do sexo. Nunca me amei de
verdade. Quando vi, estava nesse grupo e, desde então, sou uma nova Caroline.
Sinceramente, essa eu amo!”, conta.
Outra integrante do
grupo de sexo, a secretária Claudia Santos, afirma que o acolhimento que o
ambiente proporciona facilita a discussão desses temas. “O grupo é feito para o
universo feminino, que lida com questões muitas vezes aflitivas, doloridas e
carregadas de tabus . Essas questões são discutidas com
muita seriedade, mas de forma leve, permeada por uma atmosfera de bom humor e
acolhimento, o que faz com que os temas fiquem fáceis de serem debatidos”,
comenta.
“Chá das deusas”
As discussões que
acontecem nos grupos de sexo e questões do universo feminino muitas
vezes não ficam apenas no âmbito da internet. Bimestralmente, o
"Afrodites" organiza um grande evento que chega a fazer com que
filas se formem na entrada. Nele, as mulheres assistem a palestras, vídeos,
apresentações de dançarinos, participam de dinâmicas e ainda têm acesso a um
bazar de produtos eróticos e de beleza.
Link deste artigo: http://delas.ig.com.br/amoresexo/2017-04-13/grupos-de-sexo-ajuda.html